domingo, janeiro 24, 2010

Masculino não identificado


Ele está deitado numa maca há 5 dias, em estado de coma.
Foi atropelado enquanto andava de bicicleta.
Não tem identificação e ninguém o procurou.
Não chegam visitas na hora autorizada.
Não tem familiares ou amigos identificados pela polícia.
Não tem identidade reconhecida.
Ele é ninguém.

Mas sendo ele ninguém, foi ele que mais me fez pensar ao longo de todo um domingo de trabalho. Fez-me pensar que somos todos ninguém, sem as pessoas que nos rodeiam.
Sem essas não somos mais que um número numa maca, à qual se administra medicação à hora marcada. Não somos pais, irmãos ou amantes de alguém. Não somos gestores, programadores, professores ou médicos. Não somos portistas, benfiquistas ou vitorianos. Somos, de uma forma crua, fria e assustadora, o masculino não identificado.


4 comentários:

Viviane disse...

Há uns dias, dei por mim, com um colega, à espera que um doente agónico morresse no SO para termos vaga para outro. Estava sózinho, sem ninguém, na fase em que a respiração se faz aos soluços, se está já a bradicardizar e se sabe (por que se sente, porque os olhos estão baços, sem brilho) que a alma já não lá está.

Não era anónimo, tinha certamente um lugar, família, um nome, uma vida. Mas estava só.

As pessoas passavam por ele. Intocadas pelo fim de uma vida inteira.

Tôni disse...

Desculpa lá, mas Vitorianos somos sempre.

zippy disse...

O Tôni é o maior!

zippy disse...

O teu 4ª comentário é o melhor!!!!

Caracteres chineses...e no meio a palavra "SEX".

Quase que aposto que quem carregar no link apanha um belo viruszinho!