sexta-feira, julho 18, 2008

LU*


Tudo o que se diga a quem sofre
sabe a pouco se foi dito por quem nunca sofreu
Não há fala que mitigue a dor
de um corpo à espera da morte,
não há alívio que apazigue a aflição
de quem se defende da luz de cada dia.

Há, do outro lado da escrita,
uma voz que resume todo o sofrimento,
e contudo não se queixa,
não conhece o fel da imprecação
nem a fúria a que leva o desespero.
É uma voz mansa e paciente, delicada,
soletrando as sílabas e os segundos
como se cada hora fosse uma dádiva,
como se cada dia não passasse de um milagre.

Nem nos quadros, na exaltação das cores,
encontrei quem enfrentasse o sofrimento
com esta paz, com esta laboriosa esperança.
Este sofrimento já se apoderou
de muito do que eu amava,
sem consentir pactos nem tréguas.

Nunca um sofrimento assim
caberá inteiro no tumulto de um poema.
Há lugares a que a escrita não ousa chegar
por serem demasiado humanos para que os digamos.

José Jorge Letria

Um comentário:

Anônimo disse...

LU* too :)